Tudo indica que completarei um ano inteiro de dedicação exclusiva a quinze míseros poemas ou, mais precisamente, a uns mil e setecentos versos. Ria, Hugo, ria! E, no fim do processo, não haverá publicação, pois é preciso que os versos descansem — ainda que pareça ser isso o que têm eles feito nos últimos meses. Não fossem estas notas um eficacíssimo meio de dar vazão a ideias que surgem e se vão amontoando, já me veria diante de uma montanha inexpugnável de anotações. Tenho, por baixo, uns quarenta contos perfeitamente idealizados que não me exigem mais que um dia de trabalho para realizarem-se no papel. Além disso, já não sei quantos enredos para romances, peças ou o que for. Até para poemas, há excessos que não puderam ser aproveitados neste volume. E fico aqui a imaginar como, no passado, artistas que não dispunham de secretários organizavam-se após dez, vinte anos de trabalho criativo. Sem um computador, parece-me que eu seria forçado a desistir…