Uma vez a cada dois anos, sou forçado pelo Estado brasileiro a sair de minha casa e dirigir-me a uma seção eleitoral. O Estado, autoritário, obriga-me sob a ameaça de complicar-me a vida, caso não cumpra com a obrigação que contraí sem nunca ter assinado um termo de consentimento. Por isso, religiosamente, uma vez a cada dois anos estou, a pé, dirigindo-me a um lugar que não quero, para enfrentar uma longa fila que me desgosta e digitar números que não me agradam em uma urna eletrônica. Assim procedo desde a maioridade. Pois bem. Dado o pretexto, a piada: notei, neste 2020, jamais ter votado em um candidato que venceu para nenhum cargo, seja municipal, estadual ou federal: sempre escolho o que perde. Penso e automaticamente o sorriso brota-me na face. Alegro-me toda vez que noto uma evidência de que não sou como as outras pessoas. Tenho, pois, nova confirmação do que já sei: sou um animal inadaptado, não tenho nenhuma semelhança de ideias, temperamento ou qualquer outra coisa com as pessoas que me rodeiam. E se o futuro do Brasil depender de que eu acorde num domingo, enfrente uma fila e eu tenha direito de escolha (o que, naturalmente, não tenho, a despeito das aparências), o país está lascado…
____________
Leia mais: