Um exercício de curiosidade nos arquivos da imprensa brasileira do século passado escancara uma destruição cultural que não pode ser apenas obra dos tempos. O que de imediato se percebe é o uso do idioma: as velhas páginas evidenciam não somente o domínio do vernáculo, mas — até! — estilo. As manchetes demonstram a radical modificação do relevante; mas é nas colunas que a real extensão do problema é percebida. Nestas, a literatura, antes abundante, desapareceu: não se acha referência a um romance, a um personagem, a um poema, a um autor; o que, noutras palavras, é a demonstração de que o legado literário já não se faz presente. E se não se faz presente, convém perguntar o motivo. A resposta surge após meio segundo de reflexão: ele não aparece porque não foi absorvido e assimilado, porque não foi importante na formação dos cronistas e neles não viceja como apoio seguro para a interpretação da realidade; em suma, ele não aparece porque inexiste. Deste fato conclui-se, primeiro, que o cidadão comum que se oriente pelos jornais, talvez pela primeira vez em muito tempo, passará a vida sem tomar conhecimento do legado cultural brasileiro, a menos que recorra à literatura especializada. Em segundo lugar, o mais óbvio: são homens supinamente incultos que, hoje, escrevem para os jornais.