Diz Brodsky, em tradução portuguesa de um de seus discursos na Suécia:
Aquele que escreve um poema o faz, acima de tudo, porque escrever versos é um extraordinário acelerador da consciência, do pensamento, da compreensão do universo. Aquele que experimenta essa aceleração uma vez não consegue mais abandonar a chance de repetir essa experiência, caindo na dependência do processo, como outros o fazem com drogas e álcool. Aquele que se encontra nesse tipo de dependência da linguagem é, acredito eu, o que chamamos de poeta.
É realmente indescritível a sensação de escrever um poema e, em seguida, analisar o processo. Da ideia ao verso finalizado transcorrem etapas que exigem, primeiramente, a tomada de consciência — para dizer como Brodsky — da ideia, a sua visualização precisa; em seguida, é preciso expressá-la, materializá-la na linguagem. O resultado desta realização é, para o poeta, a assimilação e o domínio daquilo que, anteriormente, não era senão algo opaco. Há casos, porém, que o resultado é ainda mais impressionante, e a ideia desenvolve-se de maneira inesperada: é como se o poeta, à medida que avança no poema, avançasse no próprio pensamento, como se desbravasse o desconhecido e, no fim do processo, aumentasse o escopo de sua percepção.