Uma decepção amorosa afeta, o mais das vezes, uma camada superficial e menos nobre do indivíduo. Dói, mas é a dor física do animal ferido. Geralmente, não abala o conceito de amor na alma desiludida: é possível encontrar outro alguém. A decepção, porém, quando proveniente de um amigo a quem foi dedicada amizade no sentido único em que esta palavra deveria ser empregada, que eleva as almas envolvidas e enobrece a raça, é como uma punhalada de duríssimas consequências filosóficas e morais. Diferentemente da traição amorosa comum, não é o orgulho que se fere, mas a parte superior da natureza, que não pedia nada e recebeu mesquinhez em troca da generosidade. É algo que enche a alma de desgosto. Arrasa o conceito que se faz dos outros; debilita a capacidade de confiar; mina, de antemão, a disposição para relações futuras… Grande bobagem! Como se esta palavra, exatamente como a outra, já não estivesse corrompida…