Uma psicologia que submeta o inconsciente — e consequentemente a personalidade — a estímulos exclusivamente externos pode até ser efetiva e aplicável ao homem comum, mas nunca será apropriada ao modelo humano superior. Nisto reside uma clara limitação da psicanálise. É verdade que a experiência, o meio e o resto deixam marcas, mas estas podem ser ínfimas se comparadas às do raciocínio na mente que aprendeu a menosprezar o exterior e especializou-se em pensar. Neste caso, traça-se como uma linha divisória entre seus primeiros anos e o momento em que descobriu a própria faculdade. Descobrindo-a, passa a exercitá-la numa análise comportamental minuciosa, que julga-se validando ou invalidando o que motiva-lhe o agir. Depois, opera uma remodelação — ou aprimoramento — da própria personalidade, em que estímulos internos passam ocupar o inconsciente. O resumo: o ser liberta-se das correntes psicológicas — caso as haja — e constrói-se, tornando-se quem deliberadamente deseja ser. Buscar no passado as justificativas para o comportamento de um ser como este, tirando-lhe a responsabilidade de agir como age ou ser como é, é mostrar-se absolutamente incapaz de compreendê-lo.