Linhas de Vigny:
Dans cette prison nommée la vie, d’où nous partons les uns après les autres pour aller à la mort, il ne faut compter sur aucune promenade, ni aucune fleur. Dès lors, le moindre bouquet, la plus petite feuille, réjouit la vue et le coeur, on en sait gré à la puissance qui a permis qu’elle se rencontrât sous vos pas.
Il est vrai que vous ne savez pas pourquoi vous êtes prisonnier et de quoi puni ; mais vous savez à n’en pas douter quelle sera votre peine : souffrance en prison, mort après.
Ne pensez pas au juge, ni au procès que vous ignorerez toujours, mais seulement à remercier le geôlier inconnu qui vous permet souvent des joies dignes du ciel.
É curioso como Vigny e Kafka, partindo de premissas semelhantes, chegam a conclusões completamente diferentes. A analogia entre vida e prisão, o absurdo da punição injustificada, a certeza da condenação… todos esses fatores, em ambos, são como obsessões de que eles se não conseguem desviar. O reconhecimento das próprias condições parece-lhes uma imposição da consciência. Nas mãos de Kafka, o enredo culmina de praxe em desespero; já em Vigny, aí está uma recomendação que soaria estranha a muitos de seus críticos: “remercier le geôlier inconnu qui vous permet souvent des joies dignes du ciel”. “Joies dignes du ciel”: isto, da pena do “pessimista” Alfred de Vigny! É verdade, é verdade: nem todos os críticos ignoraram-lhe esta face… Mas é possível ir além e dizer que, talvez, o próprio Kafka seria alvo de julgamentos precipitados. Será que, em Kafka, tal olhar seria impossível? Quer dizer: o último ato da vida de Kafka, o seu testamento, deixa-nos reticências. Mas não seria uma má hipótese conjeturar a espantosa resolução de Kafka como simples arrependimento de suas conclusões ou, ao menos, arrependimento de sua obra não deixar o esboço de uma conclusão diferente…