Uma pessoa com alguma educação não interrompe outra ao telefone; mas interrompe, sem recear por um instante, uma que está a pensar, tão logo tenha o menor e mais insignificante impulso comunicativo. Disso só se pode concluir que o pensamento é uma doença, e que pessoas normais não estão acostumadas a ele; caso contrário certamente saberiam que um “com licença” ou um “me desculpe” não amenizam em absolutamente nada o violento e brusco corte que operam no fluxo das ideias, que se vão podendo jamais retornar. Desse incomparável inconveniente não cuidaram nem a moral, nem as convenções: não há freios de nenhuma espécie para aquele que se sente no desejo de abordar um desconhecido; muito pelo contrário, é o desconhecido que parecerá mal-educado caso não conceda atenção àquele que a exige. E, finalmente, quanta satisfação ao vê-lo pela primeira vez notado por Karl Kraus! É assunto para um livro inteiro e, mesmo assim, parecem todos acostumados a ouvir novidades quando vão à barbearia; a serem abordados insistentemente por qualquer um que se apresente com o intuito de vender. Muito bem, muito bem!