Doutor Fausto, de Thomas Mann

O principal problema desta obra é a expectativa: trata-se do romance de um autor que, vinte anos antes, publicou A montanha mágica. Esperamos, então, que se reflitam estas duas décadas em amadurecimento e altitudes superiores — algo que não acontece, parecendo Mann, ao contrário, ter descido da montanha. Doutor Fausto é um belíssimo exemplo dos defeitos autenticamente alemães: é uma obra de quase cinquenta capítulos que seria muito melhor e mais potente se resumida em três. Seu ápice consiste na invocação do diabo, um personagem que, por si só, é sempre interessante. Se a obra se resumisse a este momento e suas consequências, talvez teríamos uma impressão diferente; mas Mann faz questão de nos entediar com algumas centenas de páginas ociosas. Que dizer? Carpeaux comparou esta obra ao Jogo das contas de vidro, de Hermann Hesse, dizendo terem ambos os autores se refugiado na música. Mas oh, quanta diferença! Parece impossível compará-las sem que Doutor Fausto saia completamente humilhado: é esta uma obra desprovida de elevação, que ostenta uma minuciosidade medíocre, como escrita pelo burguês que se entretém exibindo conhecimentos inúteis e escreve por hobby. Que decepção! Parece inevitável imaginar Mann, em suas mansões luxuosas, tomado de um tédio semelhante ao dos velhos indianos, incapaz de perceber-se esmorecendo quanto mais se permitia “refugiar”. Dói vê-lo neste grande escritor…