Folheio alguns manuais de escrita, leio artigos de estudiosos das letras e percebo uma certa obsessão com os períodos curtos enquanto formadores de estilo. Não nego: períodos curtos, de fato, agregam dinamismo a qualquer texto. Mas estilo é um misto entre expressividade, concisão e ritmo, e se podemos dizer que períodos curtos dinamizam, os longos, por sua vez, aprofundam. Vamos ver: Nelson Rodrigues. Esse mestre, em especial em suas narrativas de ficção, lançou mão com extrema perícia dos períodos curtos. Entretanto, temos de pensar: como são os romances rodriguianos? Logo veremos que Nelson, propositalmente, imprimiu dinamismo às narrativas, posto os enredos se lhe desenvolvessem em progressão acelerada, gerando apreensão e expectativa. É uma técnica, instiga o leitor. Mas Nelson sabia, como poucos, imprimir ritmo aos seus textos, e não são raros os períodos em que o mestre divaga, se estende, diluindo a tensão germinada em períodos precedentes. Vejamos agora o outro lado: penso em Dostoiévski, Thomas Mann, Hermann Broch. Que seriam esses autores sem seus períodos extensos? Ou antes: como imprimir profundidade na narrativa sem se servir de parágrafos robustos e longas construções? É possível? Evidente… mas é inegável que seja esta uma técnica apurada. Tudo é uma questão de perguntar-nos: o que desejamos escrever? Uma narração objetiva? Descrever a sequência de uma ação? Ou afundar uma personagem numa reflexão? Evocar o devaneio no leitor? São objetivos diferentes. E se, como tenho lido mais de uma vez, períodos longos podem sugerir afetação, provocar enfado, sobejar detalhes fúteis, sem dúvida uma narrativa desenvolvida exclusivamente em períodos curtos soará como rasa, entrecortada e banal.
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