Aprender latim de forma independente

Aprender latim

Diante de uma língua que parece jamais se entregar, frustrado em leituras que simplesmente não avançam, penosas, exigindo-me interrupções constantes, quebrando-me o raciocínio e escondendo-me terminantemente o ritmo dos textos, penso que aprender latim de forma independente talvez seja como construir um prédio de cinco andares, desde a fundação até o acabamento, com instalações elétricas e hidráulicas, sem dispor de manual algum nem auxílio de um único operário. Para que tudo isso? É o que me pergunto… Agrada-me o masoquismo intelectual? ofender-me, diversas vezes ao dia, ao ver-me pela centésima vez pinçando a mesmíssima palavra no dicionário? Um mistério…

Por esses dias vi uma professora de inglês a ensinar-lhe à aluna: “Enquanto continuar a traduzir, você não irá aprender”. Desde então estudo latim sorrindo. Olho-me ao caderno, com duzentas páginas de traduções e anotações que parecem grafadas a sangue, ciente de que, tendo em mãos um original latino, simplesmente não serei capaz de avançar.

Mas aí está, querido Latim: eu continuarei sorrindo enquanto você me humilha e me açoita. Para mim não faz diferença… Sei que o cérebro humano aprende à base de pancadas. Pode atirar-me seus pronomes terríveis, verbos depoentes, defectivos ou semidepoentes, duplo acusativo ou dativo, embaralhar a ordem das palavras, fazer-me consultar pela milésima vez o significado do mesmo advérbio…  Tanto faz. Estarei sempre pensando na professora de inglês a ensinar: “Pense em inglês, pense “cat”, pense “dog”, pense “bird”…”. E meu caderno, comprado já nem sei em que ano, continuará a ser preenchido, uma página por dia, até que você desista e se renda à minha obsessão de parvo. Estamos combinados!

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