O quadro pintado por Carpeaux no ensaio A ideia da Universidade e as ideias das classes médias é de uma atualidade impressionante. O cenário, aliás, não fez senão se agravar. O “regredir de uma elite à condição de massa ornada de títulos acadêmicos” é um fenômeno consumado no ocidente. Muito em razão desta tendência às especializações, necessárias e destrutivas, que empurraram para o limbo a alta cultura e cercearam as possibilidades para o indivíduo comum que, logo em tomando conhecimento de si mesmo, vê-se o mais das vezes esmagado pelo império da necessidade, que hoje abocanha-lhe uma parte tão grande da vida que pareceria absurda em tempos passados para alguém dito “livre”. As universidades, consoante à tendência hodierna, ensinam profissões e possibilitam carreiras: é o que pede o mercado. A formação cultural já não faz parte do escopo dos cursos e, assim, o aluno deixa hoje o ensino médio semianalfabeto para passar o resto da vida sem escutar uma única palavra sobre história ou literatura. Crescem as universidades, uma massa enorme gradua-se, especializa-se, coleciona títulos acadêmicos e angaria prestígio, dinheiro, reconhecimento; “mas, em geral, estas massas graduadas se distinguem dos iletrados somente por uma autoridade profissional que as torna menos úteis que perigosas”. É um desastre.