Há algo realmente belo no processo de criação poética e que somente o poeta pode experimentar. O poema, quando concebido, o mais das vezes parece excelente: dá-se a ideia, que se transfere timidamente ao papel. Aqui, nada há de concreto e bem definido, apenas uma vaga intenção, e uma imagem que parece reluzir. Então vem o esboço, que sai desajeitado, senão desastroso, resultando num como choque de realidade na cabeça do poeta. A ideia, antes brilhante, ora parece má, e sua realização aparenta inviável, não passível de produzir os efeitos que pareciam tão simples e certos. O poeta, pois, tem de decidir: abandona a empresa? prossegue no intento? Optando por esta, segue-se um longo e fatigante trabalho de melhorar o esboço repulsivo, de aproximá-lo o mais possível daquela imagem que lhe pareceu ótima. Então os versos vão sendo seguidamente repetidos em mente e, aos poucos, esta aponta-lhes as falhas, vai modificando-os, substituindo palavras, enquadrando-os num ritmo mais interessante e mais agradável. Finalmente, como quase por milagre, o esboço torna-se um poema, e já não guarda o grosso dos aspectos repugnantes de outrora. Por vezes, há uma aproximação satisfatória da ideia inicial; por outras, algo diferente é alcançado. Chega o momento de os versos, já gravados em mente, descansarem. E, durante um tempo indefinido, inesperadamente, a mente prossegue em seu trabalho, esmerando algumas arestas, apontando soluções novas e, algumas vezes, conferindo um brilho até então inexistente aos versos já talhados. Quando tal ocorre, o poeta, relembrando a impressão amarga suscitada pelo esboço, cotejando este com o resultado final, não pode senão alegrar-se e sorrir.