A chama da vocação

Talvez seja mesmo impossível explicar a um imbecil doutrinado na psicanálise, que dedicou a vida inteira aos interesses mais mesquinhos, cultivou as relações mais fúteis e jamais presenciou um ato nobre, um ato corajoso de assunção que contrarie aquilo que é conveniente o que é essa chama, esse impulso ativo que, uma vez manifesto no espírito, traça uma linha divisória na vida daquele que o experimenta. E é também inevitável que um sujeito como o primeiro utilize as lentes que possui para julgar ações alheias: de que outra forma poderia fazer? Assim que o próprio insulto é inevitável, e talvez tenha de ser perdoado por originário de uma incompreensão involuntária. De um lado, temos uma resolução inquebrantável, um espírito disposto às últimas consequências e a tudo largar pela missão que lhe parece a finalidade da existência; temos uma transformação por vezes tão completa que anula qualquer identificação com o passado. Do outro lado, temos um homem comum.