Disse algum sábio oriental que a escrita prejudica a memória, e que esta, se não regularmente exercitada, prejudica o conhecer. Tal foi dito a fim de justificar o conhecimento oralmente transmitido e apenas mentalmente registrado. É possível que aí esteja uma grande verdade. Contudo, há ressalvas a se fazer. Em primeiro lugar, a oralidade pressupõe um falante e um ouvinte; no mais das vezes, um mestre e um discípulo. O mestre faz bem a si mesmo ensinando, isto é, exercita a própria memória no ato de ensinar. Já o discípulo o escuta, e não o faz senão objetivando tornar-se um mestre futuramente. Presume-se, também, que o mestre tenha tido um mestre. E daí vemos que tal afirmativa, embora possa ser verdadeira, pressupõe uma tradição, um ambiente, noutras palavras, inexistente para a maioria dos mortais. Supondo que não haja o discípulo, que faria o mestre para exercitar a memória? Não é certo que discursar para as paredes seja a melhor opção.