Poucos defeitos causam pior impressão que a inclinação ao retiro, ou, se quiserem, a misantropia. Escapa-me, porém, a resposta: como conhecer a natureza humana e não ser um misantropo? Como se não deixar o psicológico contaminar a ponto de repugnar qualquer relação de intimidade forçada? Como não detestar o teatro das conveniências? Estudo e encontro o óbvio: os grandes artistas partilharam desta qualidade. E foram, em maioria, detestados quando não ignorados em vida. A história por vezes ilude a aparentar ter operado algumas mudanças na psique humana. As reações aos estímulos externos, a dinâmica das relações pessoais, a fundamentação da vida em conjunto mudou apenas em detalhes. O conceito geral sempre repugnou o desgostoso da vida social. Não só o repugnou, como o acossou a reformá-lo: a extinção do individual sempre foi tara do coletivo, a sociedade sempre se arrogou o direito de exigir que todos representem papéis. Por isso, é engraçado notar como a misantropia, senda natural de qualquer observador do homem, tende a agravar-se ao infinito: a busca pelo retiro é acompanhada, necessariamente, da perseguição.
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