A queda obrigatória

A queda obrigatória

Diz Mário Ferreira dos Santos, em Filosofia da crise:

Consideramos como um fator de degenerescência de toda a construção do ser humano, aquele momento em que ela começa a subir os degraus do absolutismo. Esses degraus podem ser expostos da seguinte maneira:

1) uma doutrina é considerada como certa e eficaz;
2) como a mais certa e eficaz;
3) como a única certa e eficaz.

Ao alcançar esse terceiro ponto, toda e qualquer objeção é considerada herética. Não é mais possível, nesse momento, transigir com os adversários, porque a própria defesa da doutrina exige uma vigilância constante contra todos os opositores, e até contra partidários vacilantes, transigentes ou tíbios, e toda vacilação é uma ofensa aos princípios absolutamente VERDADEIROS, sobre os quais não se pode permitir o menor vislumbre de dúvida ou a menor suspeita.

E se essa doutrina ou sistema dispuser do poder físico, ela o exercerá inevitavelmente, empregando a força para combater opositores e partidários dúbios e vacilantes.

Não é possível descrever com mais precisão a práxis vigente no ocidente moderno. A prisão ideológica em que se meteu evidencia o zênite já atingido e a queda obrigatória. Tudo, tudo repetindo-se novamente… E este policiamento autoritário destes dias, como mostra Mário, não faz senão instigar uma reação contrária violenta, que acabará por destruir todos e cada um dos valores tidos como supremos pelos sacerdotes da intolerância. Tendo a inércia impossível, escalar degraus parece compulsório; mas, do topo, só há movimento possível para baixo.