Leio ABC da literatura, de Ezra Pound e encontro, entre uma exposição virtuosa e trechos lúcidos de um grande intelectual, o óbvio aparentemente ignorado:
Music rots when it gets too far from the dance. Poetry atrophies when it gets too far from music.
Que dizer? A busca por originalidade e novos meios de expressão na literatura várias vezes desaguou numa descaracterização da própria arte literária ou, em outras palavras, numa estética pior. Muito em decorrência de uma visão obsessiva no estabelecimento de leis, as diretrizes, as ferramentas capazes de dotar a construção literária de um caráter artístico caíram em desprezo, tornaram-se “antiguidades”. O problema, entretanto, só faz fugir do essencial: por que o arco de ação na dramaturgia? Por que a métrica na poesia? Porque são instrumentos que, se utilizados com destreza, diferenciam a arte literária do discurso falado, tornando-a esteticamente superior; são instrumentos capazes de entregar unidade à construção artística, capazes de produzir efeitos expressivos interessantes. O artista que os não conhece não será capaz de estabelecer critérios qualitativos para a própria arte, ou seja, não será capaz de melhorá-la, sequer avaliar sua qualidade estética, manejando algo de que ignora a substância. Obviedades, obviedades, conquanto extremamente necessárias…
The bad draughtsman is bad because he does not perceive space and spatial relations, and cannot therefore deal with them.
The writer of bad verse is a bore because he does not perceive time and time relations, and cannot therefore delimit them in an interesting manner, by means· of longer and shorter, heavier and lighter syllables, and the varying qualities of sound inseparable from the words of his speech.
____________
Leia mais: