Às vezes é divertido imaginar a reação de um destes europeus realíssimos e literários, que aliam o rotineiro mau humor à prática da misantropia, se expostos à ousadia destes ambulantes que pululam nas metrópoles brasileiras. Quanto tempo suportariam, sem que explodissem e acabassem partindo para a agressão? Difícil dizer… Mas bastariam uns poucos minutos a pé em qualquer avenida movimentada para que notassem que, aqui, inexiste essa coisa chamada constrangimento, essa inibição saudável perante um desconhecido, esse respeito que se manifesta por um desejo de não incomodar. Não, não… aqui dá-se o oposto, e idêntica irritação brotaria no ambulante alvejado pela desfeita de encontrar um transeunte que não esteja inteiramente disponível, inteiramente aberto e ansioso pela abordagem intempestiva. Dois animais cuja relação não pode senão resumir-se em repulsa e confronto e que Deus, pelo bem do planeta, faz bem em separar.