O desejo de concordância

Desejo de concordância

Poucos instintos são tão perniciosos às relações sociais e, especialmente, à personalidade do artista como o desejo de concordância. Em primeiro lugar, por ser esta uma manifestação da vaidade. Em segundo, pelas naturais implicações: discussões inúteis, antipatias gratuitas e fortalecimento do apego às próprias ideias. Tudo isso é veneno para alguém que deseja cultivar relações amigáveis e, pior, dar origem a uma obra artística. Conviver com o dissidente não é somente obrigatório, como o mundo é melhor por duas pessoas não pensarem igual. E quanto ao artista: que é que ele tem a ver com a opinião dos outros ou com a própria opinião? Desejar a concordância o tornará um egocêntrico, de antolhos, inclinado a usar da arte para adornar as próprias convicções. Como artista, inevitavelmente falhará, posto o desejo de concordância ser mancha que, em contato com a arte, impregna e não sai.

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