Dostoiévski e a técnica artística

Dostoiévski e a técnica artística

Proverbiais são as críticas ao estilo de Dostoiévski. Não somente os russos, como também desconhecedores do idioma costumam dizer de Dostoiévski prolixo, impreciso e muitas outras coisas, a taxar-lhe os textos como mal escritos ou mal acabados. Destes, entretanto, é maioria os que reconhecem o imenso valor da obra de Dostoiévski, o que nos expõe uma questão interessante. Hemingway, em A Moveable Feast, coloca-a nos seguintes termos: “How can a man write so badly, so unbelievably badly, and make you feel so deeply?” A resposta é simples: o que há na obra de Dostoiévski ultrapassa a técnica artística. Sobre esta, guardo-me as inúmeras ressalvas ao so unbelievably badly para quando for capaz de ler em russo — cautela, aliás, que faltou a Hemingway. Mas a questão expõe outra ainda mais interessante: qual é o objetivo da arte? como a grande arte se manifesta? E enganam-se os críticos que julgam o essencial da arte residir na técnica. A grande arte destaca-se, primariamente, pela potência de expressão, pelo efeito que é capaz de gerar. E o estilo, a técnica, a forma são acessórios que contribuem para a criação desse efeito, muitas vezes amplificando a expressividade da obra artística. Intenções diferentes, técnicas diferentes… E distinguindo o essencial, é possível entender como autores de estilos tão díspares como Hemingway e Dostoiévski conseguem, ambos, entregar-nos obras de enorme valor.

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