Drummond afirmou preferir Camões a Pessoa por ser este “frio” e, segundo Drummond, tocar-nos apenas a dimensão intelectual. Preferências… Mas aí está uma observação que pode servir de guia para esta comparação já corriqueira: a “dimensão intelectual”. Se a tomamos com outro sentido, isto é, dizendo respeito à dos dois poetas e não à nossa, não há como não concluir que, em Fernando Pessoa, é ela mais refinada, mais abrangente e mais profunda: há na obra de Pessoa uma multiplicidade que talvez não se encontre em outro autor português. Exatamente por isso, da mesma maneira que é possível declarar uma preferência a Camões por ser ele menos “frio”, é possível declará-la a Pessoa por ser-lhe o mundo interior ostensivamente mais rico que o mundo exterior que serviu de base aos versos de Camões.