Não adianta: ou se valoriza o que há de penoso no passado, ou pouco dele se poderá aproveitar. O tempo não retorna, e menos ensina o que menos esforço exige para absorver. Ali onde machuca reside uma oportunidade, e só se aproveita o passado quando se assimila o paradoxo de reconhecer nele a identidade presente ao mesmo tempo que se aceita a parcela do que era, mas já se foi.
Categoria: Notas
A despeito de tudo quanto se pode…
A despeito de tudo quanto se pode dizer em contrário, a literatura moderna, aproximando-se do cotidiano, algo progrediu. E se às vezes incomoda a banalidade de enredos e personagens, é certo que, nesse cenário corriqueiro, abriram-se possibilidades, e algo de novo se pôde dizer. Se a tradição anterior expandia o imaginário, a nova suscitou maior identificação com o leitor, que agora mais facilmente encontra lances de sua própria vida narrados por outro, porventura aventando possibilidades que não imaginou. Neste sentido, a literatura enriqueceu, e é bom que tenha sido assim.
Talvez não se possa tirar da vida…
Talvez não se possa tirar da vida lições mais valiosas que aquelas provenientes de uma angústia intensa e prolongada. O momento em que esta é finalmente superada constitui um marco, porque geralmente envolve um esforço interno incomum. Dá-se então o esforço e a catarse. A tensão alivia, brota um sentimento positivo, mas o ocorrido não se esquece: permanece como vivo e autêntico aprendizado, pelo qual sentiu-se na pele o encargo de aprender.
Há algo maravilhoso nestes frequentíssimos…
Há algo maravilhoso nestes frequentíssimos lampejos experimentados na imediação da morte, que brotam como que esclarecendo a vida inteira, acompanhados de uma lucidez inédita — inédita, exatamente antes de morrer! Racionalizar o fenômeno é inútil, mas decerto algo se passa quando enfim se fecham os eventos de uma vida, quando se pode conectá-los agora que concretizados, e se pode inferir um sentido final. Isso, percebe-o mesmo o observador externo; mas vivê-lo e senti-lo, esse algo intraduzível que transforma e convence, que pacifica e esclarece, é pena que, tardando, nos outros não se pode muito mais do que admirar…