É dificílimo encontrar uma angústia…

Quando se examina bem, é dificílimo encontrar uma angústia que não seja proveniente de uma escolha, anterior ou presente. Apenas isto bastaria para despertar na mente a certeza de que traça em grande parte o seu destino, e colhe certamente os frutos daquilo que plantou. Se o não reconhece, é porque não amadureceu o suficiente para assumir o encargo das próprias decisões, e enquanto não o fizer, permanecerá num estado de submissão imaginário que adicionará aos malefícios da angústia aqueles da ignorância.

O intelectual que se preze deve ter não somente…

O intelectual que se preze deve ter não somente como ponto de partida, mas como noção constante a de que sua vida é uma chispa num mundo que já existia e continuará a existir. Sem isso, é-se facilmente engolido por uma vaidade afinal risível. E quando vemos a quantidade de intelectuais modernos a cair nesta ilusão primária, quando vemos o quão despudorado tornou-se o amor-próprio, fica patente um alheamento da realidade que o homem pré-histórico não se poderia jamais permitir, e mesmo para os bichos, o permiti-lo significaria a extinção.

A literatura é uma ocupação dificílima

A literatura é uma ocupação dificílima porque, em geral, seus resultados não se fazem palpáveis. Daí que pareça, diante de uma “ocupação prática”, inteiramente inútil. E ainda que assim não seja, é assim que parece ao escritor que diariamente trabalha, isto é, a rotina de criação invisível faz brotar uma sensação de inutilidade difícil de dominar, sensação muito agravada pela realidade palpável de que a obra recém-criada ninguém afeta, ninguém estimula, e frequentemente não é sequer notada por ninguém. Mas aqui está o brilhante paradoxo: quanto mais inútil pareça a literatura, tanto mais é autêntica. E o grande escritor completa-se vencendo as aparências e deixando como legado o seu exemplo de superação.