As preocupações e os pequenos erros…

Felizmente, as preocupações e os pequenos erros, mesmo se abundantes, passam sem que nenhum esforço seja realizado para tal. Simplesmente passam, e com uma facilidade que, às vezes, parece milagrosa. Então, mente fresca, ânimo restaurado, há uma nova oportunidade para retomar a atenção ao principal. O mais difícil, frequentemente, é sustentar com paciência essa certeza: há momentos em que a vista escurece, e o mais que se pode fazer é conter-se e esperar.

É característico de diversos autores…

É característico de diversos autores o expressar-se comedidamente, mais sugerindo que propriamente expressando o que querem. Nalguns casos, decerto a sugestão funciona, e talvez diga mais do que a expressão direta poderia dizer. Mas esta técnica, se empregada sempre, redunda num vício que prejudica ainda mais o autor do que a obra. É um vício que, sempre que o verbo nasce inflamado na mente, rejeita sua expressão inflamada no papel. E então é como se, ao autor, fossem proibidos determinados modos de dizer. Não se trata apenas de uma limitação óbvia, mas da privação de experiências artísticas importantíssimas: uma única vez que o escritor rompa todas as amarras e force o espírito a expressar com intensidade máxima aquilo que pretende, perceberá que ali, no ato de criação, algo diferente aconteceu; mas, sobretudo, perceberá que, concentrando-se inteira e sinceramente nisto, algo diferente sempre acontece.

A busca pela identidade

A busca pela identidade envolve, em primeiro lugar, o reconhecimento do elemento estável nas mais díspares e afastadas manifestações, isto é, envolve reconhecer a coesão que se desenha durante o desenvolvimento da personalidade. Às vezes, a tarefa não é fácil, e tal coesão não se identifica nos atos, mas numa intenção mais ou menos manifesta, sem a qual o vivido se embaralha em confusão. A identidade porém existe, porque o indivíduo não se desfaz nem se torna outro — e encontrá-la é sempre revelador.

Quem se atenta para a fragilidade das relações…

Quem se atenta para a fragilidade das relações humanas percebe que nelas não se pode confiar. Às vezes chega a parecer que elas, todas elas, nascem condenadas a morrer. As que aparentam bem-sucedidas, basta aguardar para ver o dia em que, de repente, a confiança se quebra, e então tudo acabou. Nem é preciso tanto: por muito menos, por vezes a relação azeda, segue-se o natural afastamento e, quando menos se percebe, já se dera o rompimento total. Nunca, nem a melhor, a mais duradoura das relações, está demasiado segura de um fim intempestivo. Entristece notá-lo, mas as coisas são assim.