A literatura é uma ocupação dificílima

A literatura é uma ocupação dificílima porque, em geral, seus resultados não se fazem palpáveis. Daí que pareça, diante de uma “ocupação prática”, inteiramente inútil. E ainda que assim não seja, é assim que parece ao escritor que diariamente trabalha, isto é, a rotina de criação invisível faz brotar uma sensação de inutilidade difícil de dominar, sensação muito agravada pela realidade palpável de que a obra recém-criada ninguém afeta, ninguém estimula, e frequentemente não é sequer notada por ninguém. Mas aqui está o brilhante paradoxo: quanto mais inútil pareça a literatura, tanto mais é autêntica. E o grande escritor completa-se vencendo as aparências e deixando como legado o seu exemplo de superação.

A satisfação, se não buscada agora…

A satisfação, se não buscada agora, se não experimentada diante das circunstâncias presentes, não será buscada nem experimentada jamais. É preciso habituar-se a tê-la e querê-la, é preciso direcionar-se para ela, e isso só se faz pela vontade, pelo esforço e pela boa disposição. Sempre é possível encontrá-la, e tão mais proveitoso é fazê-lo quanto mais ela parece distante. Humildade na satisfação é satisfação duradoura.

A angustiante sensação de não pertencimento…

A angustiante sensação de não pertencimento parece muito mais uma questão interior que propriamente objetiva. Objetivamente, se pertence ao lugar em que se nasce. E se vemos Schopenhauer, por exemplo, a experimentá-la durante toda a vida, não podemos creditá-lo senão a uma disposição interior. Schopenhauer, em verdade, via-se relativamente bem acomodado, a adaptou-se também relativamente bem às circunstâncias que lhe foram impostas, embora não o tenha percebido. A sensação que carregou pela vida não foi senão um estorvo psicológico do qual não conseguiu se livrar.

Há derrota somente se a circunstância paralisa

Há derrota somente se a circunstância paralisa, decretando o fim de uma trajetória. Isso, aliás, vale mesmo para a morte: frequentemente esta desencadeia uma progressão que lhe anula os efeitos, uma progressão talvez só possível graças a ela própria. Daí que, em suma, enquanto não se esgotam os meios de resposta, não se sucumbiu; e quando estes aparentemente se esgotam, ainda há vitória possível — desde que, é claro, tenha-se preparado para tal.