Dignos de estima!

A classe mais estimável de pessoas é a que vive mediocremente de casa ao trabalho, durante décadas, sem fazer muitos planos, deixando a vida correr. Fazem filhos, casam-se, separando-se ou não. Então se aposentam e terminam seus dias com a cara enfiada numa televisão. Imagino esse padrão e digo: dignos de estima! merecedores dos mais ardentes louvores! E todas as outras pessoas aparentam-me, em diferentes matizes, diminuídas e escravizadas do próprio desejo.

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Falta de maturidade e discernimento

Em nossos dias há um narcisismo e uma preocupação excessiva com o sucesso que são um claro sinal de falta de maturidade e discernimento. Ninguém mais se aceita medíocre. Ou vê-se acima do que é, ou vê-se melhor em um futuro próximo. É claro que isso só pode desembocar em depressão. Fico a pensar quão mais leve calha a vida a quem diz ao espelho: “És medíocre! Tua existência não faz a menor diferença ao mundo! Em cem anos, ninguém lembrará de ti!”.

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A vida como ela é…, de Nelson Rodrigues

Ameaço bater na tecla e, antes que bata, uma esposa trai seu marido. Meu dedo toca o teclado e outra consorte replica a ação. Não fecho a primeira linha e milhares de esposas — ou seriam milhões? — traem seus maridos, impreterivelmente, em diversos países e diversos idiomas. Dois mil contos Nelson escreveu em série, dia após dia, durante dez anos, em redor do mesmo tema: o adultério. Então é justa a pergunta: não teria ele exagerado? Não poderia ele, talvez, ter escrito um pouco menos? De casa, escuto o estalar do cinto no vizinho. Não; Nelson, indubitavelmente, acertou em medida.

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