Todo prefácio é mais ou menos inútil

Todo prefácio é mais ou menos inútil, e por sê-lo de praxe, é natural que, desde a primeira linha, tenda a entediar o leitor. Quer dizer: se algo realmente importante há de ser dito sobre a obra, que seja dito nela. Contudo, a prática legitima os prefácios, ainda que raramente se provem úteis. Mas há prefácios, Deus!, há prefácios que, não satisfeitos com a própria inutilidade, querem porque querem comprometer a obra que ainda nem começou! Nada há de mais irritante do que essa exibição ociosa de erudição, que enche as linhas de termos estrangeiros e pretende expressar uma profundidade que a própria obra não foi capaz. É lê-los para imbuir-se de uma antipatia imediata e cem por cento desnecessária para com o autor. A pergunta é: por que, meu Deus, por quê?

Frequentemente o que motiva a misantropia…

Frequentemente o que motiva a misantropia é não a total repulsa pelo que há de mau no homem, mas tão somente uma divergência de interesses. Dizendo desta forma, parece pouca coisa; mas há divergências que, por tão completas, fazem com que o contato seja sempre um estorvo, sempre uma perda de tempo, quando não um aborrecimento. E então torna-se penosa a busca por um ponto de contato sabidamente inexistente. Sem ele, não há relação humana possível, e se não pode havê-lo, buscá-lo resume-se, como diz a expressão popular, a dar murros em ponta de faca.

O que há de valoroso nos teosofistas…

O que há de valoroso nos teosofistas, ao menos a princípio, não é o sincretismo da doutrina que professam, mas o impulso inicial por estudar e compreender diferentes doutrinas, buscando nelas o que há de verdadeiro e bom. É, em suma, aquela velha humildade perante o desconhecido, aquele interesse genuíno pelo alheio, que começa pela concessão de um crédito manifesto na boa disposição para ouvir. Tão evidente e tão básico. Se a teosofia ensinasse essa única virtude aos homens, já se teria mostrado de grande valor. Todo o resto são lamentos.

É difícil imaginar um combustível mais efetivo…

É difícil imaginar um combustível mais efetivo ao ódio que o dogmatismo. Poder-se-ia dizer, até, que o ódio não se completa, não se manifesta com perfeição e intensidade máxima desprovido de tal elemento. Porque se faz algo o dogmatismo é determinar, consolidar, enrijecer. E quanto mais determina, quanto mais consolida, quanto mais enrijece, maior a aversão pelo que fica de fora, incluindo o que simplesmente desconhece. Afinal, o dogmatismo dota o ódio de suas notas mais extremadas, especialmente por irracionais.