“Cosa odiosissima è il parlar molto di se”

É verdade que, como bem notado por Leopardi, “cosa odiosissima è il parlar molto di se”. Contudo, não se pode negar que a poesia lírica, em primeira pessoa, para além das ótimas possibilidades rímicas proporcionadas pelos verbos, alcança um grau de aproximação entre eu lírico e leitor que dificilmente se consegue de outra maneira. Havendo ou não identificação entre ambos, há algo neste tom meio confessional que retira, ao menos aparentemente, parte da artificialidade da expressão, tornando-a mais autêntica, e portanto mais potente. Como Leopardi, faz bem evitar essa desagradável primeira pessoa; como Leopardi, afinal se há de assumi-la em nome da expressão.

Nada é mais destrutivo para a consciência…

Nada é mais destrutivo para a consciência que a prática diária do ato esvaziado de sentido, cujas consequências não são experimentadas por aquele que o executou. O distanciamento da realidade resultante é tão extremo que acaba por anular a noção do indivíduo, anulando consigo a moral e a possibilidade de evolução. Não se reconhecendo, não se reconhece o outro, não se reconhece o passado, não se reconhece a vida. Desaparece, portanto, a necessidade de viver.

Nenhuma virtude pode florescer…

Nenhuma virtude pode florescer sem que haja este estranho e instintivo sentimento de dever e responsabilidade que a consciência faz sempre questão de manifestar. Curiosamente, a modernidade, massificando o homem, fazendo-o viver em cidades cada vez mais populosas, provendo-o de espaços e tarefas cada vez menores, não somente anulou tal sentimento, mas transformou-o noutro de insignificância. O homem moderno vive num espaço que não conquistou, dentro de uma casa que não construiu, gastando a vida em tarefas cuja finalidade real, se não ignora, saem desprovidas de sua marca pessoal. Não se pode admitir encargos para com aquilo que se experimenta desconexão.

O culto à forma só se pode dar…

O culto à forma só se pode dar em espíritos cuja motivação artística não é suficientemente forte, ou não é suficientemente clara. No primeiro caso, não se tem propriamente um artista e, no segundo, tem-se um artista que ainda não se compreendeu. O mais das vezes, porém, quer conscientemente, quer não, o culto a forma é mera máscara que se coloca para tampar um vazio interior.