Parnaso de além-túmulo, de Chico Xavier

É realmente uma piada o deparar-se com eruditos mais impressionados com a presença de epênteses ou diéreses em determinados poemas desta obra, do que com as circunstâncias absolutamente extraordinárias em que foram eles concebidos, diante de dezenas de testemunhas oculares as mais variadas. Se esta obra impossível não valida o processo humildemente exposto pelo autor, então decerto nada o validará jamais, pelo simples motivo de ser repugnado a priori por detratores indispostos a reconhecer no próximo capacidades que não têm. Um único soneto, feito intempestivamente num jato, cuja ideia se concatena na métrica e as rimas satisfazem, já seria motivo suficiente para deixar boquiabertos todos aqueles que se arriscaram alguma vez a escrever algum. E disso, então, que dizer? Só mesmo a inveja, ou o mais absoluto dos fanatismos para aventar palavras de descrédito ao autor.

Nunca deixa de espantar os extremos…

Nunca deixa de espantar os extremos a que a vaidade atira o espírito, fomentando essa desprezível necessidade de afirmação de importância perante o outro. A cada manifestação deste tipo, aflora um sentimento ruim no observador, um sentimento que só mesmo um santo para convertê-lo em piedade e misericórdia. Realmente, a caridade moral é a mais penosa entre todas as virtudes, e talvez só seja possível naquele tocado por uma inspiração superior.

É mesmo inevitável essa simpatia…

É mesmo inevitável essa simpatia que brota por aquele cujos inimigos desprezamos, e é uma simpatia que tanto mais se intensifica quanto piores estes se mostram; uma simpatia, portanto, que cresce a despeito do mérito do simpatizado. A injustiça é deplorável, e minora muito a aparência das falhas. Quando nos deparamos com um alvo da insídia e perfídia humana, não há como permanecermos impassíveis e, se não por afinidade, pela recusa da malevolência já nos colocamos em uma posição.

Diante de toda realização impossível…

Diante de toda realização impossível, diante dos milagres mais impressionantes, há sempre aqueles que se atêm à insignificância de um detalhe para contrariar o colosso, ou melhor, para afagar dentro de si a inveja e consolar-se pela incapacidade de realizar, ou sequer compreender semelhante realização. O homem é mesmo um animal deplorável… Para salvá-lo, só mesmo infinita misericórdia.