O mundo que não existe mais

O mundo que não existe mais

William Faulkner, em entrevista para a Paris Review:

There were many things I could do for two or three days and earn enough money to live on for the rest of the month.

Quê! Two or three days! Releio a entrevista perplexo. Só de imaginar que, há menos de um século, era possível viver o mês pintando casas por dois ou três dias, o sorriso desaparece-me da face. Dois ou três dias! E, hoje, é necessário trabalhar até quando se não trabalha. Exercito a matemática: quanto custa o quilo da carne? Restrinjo-me a dieta, atenho-me ao essencial: três dias por mês não pagam nem a semana! E o pior é enxergar o óbvio: não há escolha. É aceitar-se as energias e o tempo drenados a contragosto todos os dias por anos, décadas, para então olhar para trás em lamento…