O país que cospe nas próprias origens

O país que cospe nas próprias origens

O sentimento estúpido que inspirou as maiores homenagens já feitas a cidadãos brasileiros parece renovar-se de contínuo e ter, pela insistência, cristalizado na alma da nação o juízo infame de que o Brasil começou com o grito do Ipiranga, senão com a proclamação da república. Em redor de todo o território, em todos os “monumentos culturais” de norte a sul, vemos exposta a mente de um país eternamente ingrato e mesquinho, indigno e inculto, quando cospe nas próprias origens, exatamente em quem lhe entregou a civilidade, germinando-lhe o sentimento de preservação e amor pela terra a custo de muitas vidas e permitindo que, neste solo, se desenvolvesse uma civilização de base cultural europeia. Seja pela preservação do território, seja pelo empenho em fazer robustecer nos habitantes a percepção do Brasil enquanto nação, seja pelo reconhecimento honroso de figuras as mais diversas como Filipe Camarão, Henrique Dias e tantos outros, seja pelo sangue derramado ou seja pelo assentamento das fundações de um estado moderno, foram os inglórios portugueses os maiores benfeitores do Brasil, queiram os filhos ingratos ou não.

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