Oito shots em dez segundos!

Oito shots em dez segundos

Acabo de assistir, por acaso, dez segundos de um filme lançado neste último ano. Conto impressionantes oito shots neste mísero intervalo, e imediatamente penso em Andrei Tarkovski. Segundo esse grande artista, a substância do cinema é o tempo e a função do cineasta é imprimir o tempo na tela. Segundo essa prudente visão da sétima arte, uma obra que sobrepõe alucinadamente oito shots em dez segundos é qualquer coisa, menos arte. Parece-me o cinema, assim como a música, de joelhos diante de um público incapaz da concentração. A obra — e talvez obra já nem seja a palavra adequada — precisa estimular, o tempo inteiro, a adrenalina, precisa entregar emoção instantânea e gerar expectativa para uma nova emoção no segundo seguinte, caso contrário, a atenção simplesmente dispersa, e o público passa a bocejar. Sem dúvidas, é esse um traço geracional, e parece cada vez mais difícil despegar-se desta terrível realidade moderna que se assemelha a este insuportável bombardeio de shots.