Li Werther pela primeira vez e — pasmem! — não gostei. Vinha de não sei qual leitura ou, melhor dizendo, de A montanha mágica, de Thomas Mann, e senti o livro ser menor do que é. E a vida, como habitual, fez-me a língua queimar. “Bom, mas piegas. Em determinado momento, enjoa” — foi o que disse ao finalizar a leitura. Não nego: estava em encanto, embriagado do primeiro contato com Mann. Pouco tempo depois, repensei: é bem provável que o problema esteja em mim, não em Goethe. Dei nova chance ao livro — um livro, digamos, de “uma sentada” — e a leitura deu-se da seguinte maneira: senti calafrios, meus olhos pareciam engolir as linhas; por vezes, pensei em pausar, a pensar com calma em tudo o que estava sentindo. Imerso em um turbilhão de sentimentos, pensamentos, julgava Werther ao mesmo tempo que empatizava com a narrativa. Quase a chorar, fecho o livro. O veredito: “Junto de A morte de Ivan Ilich, de Tolstói, essas foram as melhores poucas páginas que já li em toda a minha vida”. E quase esqueço do principal: “Jamais me perdoarei por dizer desse livro enjoativo. Sou, eternamente, um imbecil”.
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