É sobretudo estéril essa crítica…

É sobretudo estéril essa crítica que não consegue analisar um verso sem associá-lo a um “movimento”, como se o autor, ao compô-lo, não pensasse senão em adequá-lo a uma “corrente”, em apoiá-lo num amontoado de chavões distintivos de uma “estirpe”. Quantos grandes poetas o fizeram? É sintomática essa recusa em enxergar o indivíduo, ou melhor, essa insistência em querer enxergar uma artificial mentalidade coletiva, na maioria dos casos não apenas inexistente, mas impossível. Às vezes, para evitar este ridículo, parece que o melhor seria não recorrer jamais a semelhantes classificações…

No ocidente, a gradativa facilitação…

No ocidente, a gradativa facilitação do acesso aos livros não foi acompanhada de um gradativo aumento na compreensão da realidade. Muito pelo contrário: nas últimas décadas, em que o acesso tornou-se de uma facilidade monstruosa, parece ter havido também um aumento monstruoso na confusão mental em que o ocidente se encontra. A ironia disso tudo é o retornar de problemas muito velhos, e que pareciam há muito pacificados — problemas que, teoricamente, um pouco de estudo poderia resolver. Por algum motivo, parece que a inacessibilidade despertava uma curiosidade que, por sua vez, era um incentivo à leitura e ao desejo de compreensão. Não há como negar: o homem inclina-se a julgar o mais acessível como menos interessante — desgraçadamente.

Um grande erro destes artistas…

Um grande erro destes artistas que pretendem conceber obras de “importância nacional” é que, centrando-se numa temática supostamente abrangente, esquecem que, para que ela seja efetivamente abrangente, o melhor teste é assegurar-lhe a relevância a nível pessoal. Falhando em percebê-lo, caem num artificialismo que é o resultado natural quando não se percebe a real da importância das coisas. A obra, portanto, concebida para ser abrangente, acaba por sair descolada da realidade — ou, mais simplesmente, irrelevante.

Impressiona a facilidade com que a maioria…

Impressiona a facilidade com que a maioria das pessoas adota teorias, crenças, visões de mundo, novidades de toda espécie e começam imediatamente a professá-las. Uma percepção profunda e instantânea da verdade proferida não parece justificar a maior parte dos casos. Que dizer, então? Parece tal reação só justificável naquele desacostumado a encontrar sentido nas palavras, que finalmente se coloca em contato com um discurso que compreende. Seria só isso? Talvez, também, algo de uma inclinação inata para a repetição. Mas se, algumas vezes, tal inclinação pode mostrar-se frutífera, noutras tantas ela só escancara uma suscetibilidade gigantesca à manipulação.