A boa literatura tem sempre um caráter instrutivo, ainda que velado, o qual possibilita que o leitor cresça através da leitura. Por isso faz bem ao escritor questionar o quanto ganharia um leitor hipotético ao ler o que pretende escrever: a depender da resposta, talvez o melhor seria buscar outras ideias, mais convincentes, mais realistas, menos egoístas e mais individuais. Porque é bem isto o que fica evidente quando se pratica tal exercício: as melhores ideias, aquelas que com mais facilidade agregarão algo à experiência do leitor, são aquelas mais particulares, aquelas mais intensamente vividas e mais profundamente assimiladas. Em resumo: ensina-se bem somente aquilo que se conhece bem.
É muito bom livrar-se deste vício…
É muito bom livrar-se deste vício de admirar com restrições, o qual é, praticamente, não admirar. A admiração autêntica encerra o elogio com um ponto final. Mas fazê-lo é realmente difícil, porque, desconsiderando a vaidade, é realmente difícil acostumar os olhos a centrarem-se naquilo que é bom. Quando não se aprende a fazer isso, tira-se de tudo um gosto sempre mais ou menos amargo, e enfim não se aproveita o cunho edificante da verdadeira admiração.
É dificílimo encontrar uma angústia…
Quando se examina bem, é dificílimo encontrar uma angústia que não seja proveniente de uma escolha, anterior ou presente. Apenas isto bastaria para despertar na mente a certeza de que traça em grande parte o seu destino, e colhe certamente os frutos daquilo que plantou. Se o não reconhece, é porque não amadureceu o suficiente para assumir o encargo das próprias decisões, e enquanto não o fizer, permanecerá num estado de submissão imaginário que adicionará aos malefícios da angústia aqueles da ignorância.
O intelectual que se preze deve ter não somente…
O intelectual que se preze deve ter não somente como ponto de partida, mas como noção constante a de que sua vida é uma chispa num mundo que já existia e continuará a existir. Sem isso, é-se facilmente engolido por uma vaidade afinal risível. E quando vemos a quantidade de intelectuais modernos a cair nesta ilusão primária, quando vemos o quão despudorado tornou-se o amor-próprio, fica patente um alheamento da realidade que o homem pré-histórico não se poderia jamais permitir, e mesmo para os bichos, o permiti-lo significaria a extinção.