Embora o veneno de Schopenhauer já se tenha impregnado de forma absoluta em minha literatura, aprecio muito mais a grandiosa loucura de Nietzsche, que exige maior esforço de espírito e premia com honra os pouquíssimos capazes de alcançá-la. Superar o niilismo e inocular na mente um sonoro e definitivo “sim”, desprezar as agruras mesquinhas e efêmeras, transformar a existência numa rotunda exclamação, — ainda que seja necessário contrariar o racional: — tudo isso parece-me mais belo e mais digno de valor.
“Bravura é pelejar perdida guerra!”
Acabo de dar vida a um personagem que dá um nó no raciocínio e contorna um pessimismo terrível bradando: “Bravura é pelejar perdida guerra!”. Cá de fora do poema, diz-me a mente que “burrice” também encaixa perfeitamente na métrica e no ritmo. É verdade, mente, você tem razão… Mas é curioso como o raciocínio amiúde contrapõe-se à honra, exigindo esta uma conduta irracional. “Le cœur a ses raisons que la raison ne connaît point” — assinala lucidamente Pascal. E há vezes em que ser racional é, também, ser medíocre.
A poesia de Gonçalves Dias
Não são poucos os defeitos da poesia de Gonçalves Dias. Mas muito mais numerosos, muito mais abundantes são os passos em que brilham a forma e a expressão, e o poeta alça-se indiscutivelmente ao nível dos melhores da língua portuguesa. Gonçalves Dias encanta, sobretudo, pela sinceridade na expressão poética, que convence e nada tem de afetação. Uma poesia emocionada e vigorosa, que merecidamente foi recebida como a melhor de seu tempo a nível nacional e que toca, ainda mais, posto amparada por uma biografia digna de um poeta.
A tragédia do pensamento anarquista
A tragédia do pensamento anarquista é constatar que o homem comum não é digno da liberdade. É necessário freá-lo, puni-lo, submetê-lo a uma autoridade que o diga o que se pode e o que não se pode fazer. Partindo-se da premissa oposta, o resultado é o caos. Raríssimos são os merecedores da liberdade, os suficientemente maduros para arcar com suas consequências. Estes pagam por serem superiores… Mas como conceber um mundo onde o homem comum goze de liberdade plena? Não, não… de jeito nenhum! O mundo precisa de cadeias e polícia armada até os dentes.