O budismo é uma religião para sábios

O budismo é uma religião para sábios, e é exatamente por isso que não pode ser seguida — sequer compreendida — pela massa: não foi moldada para ela. Para tornar-se budista é necessário, primeiramente, pensar, em seguida ser capaz de escolher, tomar um caminho por iniciativa pessoal.. As virtudes de um budista são absolutamente intragáveis para o ser humano comum, que não somente as não compreende como as despreza em sua mais íntima essência. Despegar-se dos prazeres e laços mundanos, arrancar o desejo pela raiz, refugiar-se no silêncio, expurgar a mente, anular o instinto gregário… tudo isso é repugnante para criaturas incapazes de pensar e avessas ao esforço individual.

Thomas Carlyle sobre Maomé

O ensaio de Thomas Carlyle sobre Maomé é notável. De início, pela prosa superior: como impressiona acompanhá-lo a manejar a língua inglesa! É uma prosa viva, repleta de imagens expressivas, inteligente e variada sintaticamente. Depois, pela capacidade de Carlyle em ver o que os outros não enxergam, pela coragem de confrontar a corrente, rejeitando a lógica cega e buscando entender o que se encontra por trás e para além das linhas de Maomé. Muito bonito, muito bonito… é um ensaio prazeroso de se ler. De toda forma, creio que ainda prefiro sentar-me à mesa de Voltaire.

A linguagem do Dhammapada

A linguagem do altíssimo Dhammapada é a única em que preceitos éticos deveriam ser expostos em textos que tencionam ser chamados sacros. O Dhammapada não recorre à lamentável via das ordens e ameaças, em que sobejam verbos no imperativo. Não manda, não exige e, conquanto escrito em linguagem simplíssima, é impenetrável aos desacostumados à reflexão. É um texto luminoso e profundo, destinado a criaturas superiores, que lança mão de uma oratória respeitosa, jamais pretendendo angariar servos, adestrar malfeitores, impor-se mediante um imperativo moral. Disponibiliza preceitos, justifica-os pacientemente, e que os siga quem quiser. Em suma, a linguagem do Dhammapada é aquela que um homem educado utiliza quando respeita a inteligência de seu interlocutor.

Uma peça e sessenta contos à força

Saíram-me uma peça e sessenta contos à força. Quanto à peça, espero ser-me a única, e não tenciono retornar a esse formato. Já quanto aos contos… é impressionante: está muito claro que o formato aborrece-me, contudo estou ciente que o trabalho não acabou; sinto-me em dívida, psicologicamente obrigado a terminar o que comecei, e é certo que não chegou o momento de brindar-me com o ponto final. Uma peça e sessenta contos à força: impelido pela consciência de que há temas sobre os quais não posso deixar de escrever.