O que mais irrita no agnosticismo ou, melhor dizendo, no agnóstico, é a presunção de julgar-se um modelo humano na plenitude de suas potencialidades. Isso, é claro, é o que aponta o óbvio. Se diz o agnóstico que determinadas questões metafísicas ou religiosas são incognoscíveis ao espírito humano, subentende-se que ele conheça-o em seu grau supremo de evolução. Jamais lhe dá na cabeça a possibilidade de haver seres humanos com faculdades que ele mesmo não possui, ou evoluídas em graus superiores aos seus. Em vez de dizer: “Eu não sou capaz de compreender a metafísica”, diz: “O homem não é capaz de compreendê-la”. É a imodéstia e estreiteza de visão típicas dos espíritos inferiores…
O português e o inglês
Verter o português ao inglês é um trabalho de destruição de recursos sintáticos. A operação inversa, quase sempre um aniquilamento expressivo. Inglês em português é frequentemente terrível, e o contrário o mais das vezes maçante. Iniciei estas notas disposto a traduzir ao inglês tudo quanto escrevesse: não demorou para que eu desistisse da empresa e deliberasse, ao contrário, não traduzir nada, salvo estas notas. Já vamos a dois anos e dezenas de milhares de palavras vertidas, quando este tempo seria melhor empregado escrevendo mais linhas em português. Fico a calcular quanta frustração e dispêndio de tempo teria enfrentado caso tivesse seguido o plano inicial e traduzido os outros livros que publiquei… Glória a Deus! Disto a dúvida: escuso-me da obrigação velada ou levo ao final aquilo que comecei?
A mente, se não controlada, definha
A mente, se não controlada, definha. Para controlá-la, o dificílimo e contínuo esforço para descartar os impulsos naturais e irreprimíveis. Se o esforço cede, a vontade estabelece-lhe a ditadura, em que a razão é amordaçada. A mente tem-lhe a força e a liberdade vinculadas a um somatório de hábitos que ela mesma é responsável por ditar: se escusa-se da tarefa, condena-se à prostração.
Reticências…
Não importa quão grande seja-me o respeito pelo autor ou quão alta seja a elevação de espírito que uma obra dissertativa produza em mim, nunca experimento a sensação de estar diante da revelação de uma verdade. Seria um vício? um ceticismo exagerado e contraproducente? Ou acaso uma limitação perceptiva? É verdade que o estudo da metafísica alça a mente a um plano muito mais interessante do que o plano da chamada realidade sensível; mas de que adianta, para uma mente incapaz de aceitar fórmulas e contrária à afirmação? Reticências…