A altivez manifesta-se, sobretudo, na adversidade. Quando o vento sopra a favor é facílimo utilizá-la como máscara. Topando contratempos, porém, as máscaras caem, e o altivo distingue-se pela soberba virtude do silêncio. Postura firme, nervos de aço e resignação. Que venha a tormenta, qualquer tormenta! Altivez resume-se a nunca reclamar.
A melhor narrativa exige estruturação metódica
Experimentações diversas têm-me induzido a pensar que a melhor narrativa exige estruturação metódica. É verdade: faz-se prosa de mente livre, deixando-a fluir, com resultados interessantes. Contudo o efeito de uma narrativa é quase sempre mais fraco se lhe notamos grandes lapsos estruturais. Por que é tíbia? por que não convence? Frequentemente encontramos a resposta em seu encadeamento, na maneira como está organizada e progride. Da parte do artista, parece interessante sentar-se e construir com liberdade total, desprendido de amarras estruturais. Entretanto, parece haver aí um engodo. A grande arte aparenta exigir um artista onisciente que, a cada passo, esforça-se por simular a naturalidade do que está a criar.
O otimista carece de senso de humor
O otimista carece, sobretudo, de senso de humor. Se sorri, fá-lo desde que lhe não agridam as “convicções”. Não passa frequentemente de um fanático, apóstolo da crença no futuro luminoso, incapaz de caçoar de seus próprios e seguidos fracassos. Parece paradoxal brotar humor do pessimismo, mas é só aparência: o pessimismo surge do raciocínio, e o humor da modéstia imposta pelas conclusões ao intelectualmente honesto. O otimista não ri de si mesmo — portanto, geralmente não sabe pensar. O experimento é muito simples: ridicularize-se, por graça, um sujeito que afirma o futuro lhe guardar um pote imenso de ouro — ver-se-á imediatamente as veias lhe pulsarem de cólera. Faça-se parecido a um pessimista: chame-o de ranzinza, urubu ou reclamão — e ver-se-á, naturalmente, brotar-lhe um largo sorriso na face.
A imagem que fazemos de autores e obras, com o tempo, cria vida e se move
A imagem que fazemos de autores e obras, com o tempo, cria vida e se move. Então podemos experimentar impressões impossíveis no instante contíguo ao contato com eles, impressões que exigem distanciamento e maturação. Se, por um lado, essas impressões podem expandir nossa compreensão, por outro podem afastar-nos do mais importante. Por isso, daqueles que nos são caros, a releitura é tarefa obrigatória.