Filosofia científica: a piada que não se conta numa mesa de jantar

Sou apresentado a um filósofo “genial” cuja obra integra perfeitamente a filosofia e a ciência. “Um positivista?” Negativo. E, segundo o gênio, correntes como o existencialismo tratam-se de pseudofilosofia. É-me o sorriso automático. Estou, em verdade, em ótimos dias: graças a Pessoa, dediquei várias centenas de páginas à astrologia. Creio, porém, que o filósofo genial me não tomará o tempo da leitura de um sumário. A mim é gritante: a filosofia só se harmoniza com a ciência quando deixa de tratar dos grandes problemas do homem — justamente aqueles que extrapolam o escopo da ciência. Integrar filosofia e ciência é, de forma prática, mutilar a filosofia e ignorar a aplicabilidade real da ciência. Mas admito: não há surpresa. Conquanto “filosofia científica” seja uma piada grosseira, daquelas que não se conta numa mesa de jantar, é natural que a presunção humana queira colar, em todos os substantivos disponíveis, o qualitativo supremo: assim se garante a vitória sobre o passado — velhíssimo passado…

Um sujeito comum não se mata por um problema matemático

Um sujeito comum não se mata por um problema matemático, nem por sua incompreensão da termodinâmica. Talvez o faça um físico, desde que tal problema, para ele, tome cunho existencial. Mas o sujeito comum, assim como o físico, mata-se após uma grande perda financeira, afetiva, ou após uma decepção amorosa. Percebe-se, aqui, um traço comum entre ambos, ou um problema que a ambos atinge. Sucede que esse problema, exposto pelas mais variadas maneiras, é o problema central da existência humana. E não posso deixar de notar, entre todas as mentes mais brilhantes da história, a minha predileção por aquelas que foram capazes de enxergá-lo.

Oito shots em dez segundos!

Acabo de assistir, por acaso, dez segundos de um filme lançado neste último ano. Conto impressionantes oito shots neste mísero intervalo, e imediatamente penso em Andrei Tarkovski. Segundo esse grande artista, a substância do cinema é o tempo e a função do cineasta é imprimir o tempo na tela. Segundo essa prudente visão da sétima arte, uma obra que sobrepõe alucinadamente oito shots em dez segundos é qualquer coisa, menos arte. Parece-me o cinema, assim como a música, de joelhos diante de um público incapaz da concentração. A obra — e talvez obra já nem seja a palavra adequada — precisa estimular, o tempo inteiro, a adrenalina, precisa entregar emoção instantânea e gerar expectativa para uma nova emoção no segundo seguinte, caso contrário, a atenção simplesmente dispersa, e o público passa a bocejar. Sem dúvidas, é esse um traço geracional, e parece cada vez mais difícil despegar-se desta terrível realidade moderna que se assemelha a este insuportável bombardeio de shots.