Idealizam a esperança somente aqueles que jamais a miraram em plenitude

Idealizam a esperança somente aqueles que jamais a miraram em plenitude, que jamais lhe mediram os efeitos derradeiros. Machado, que a conhecia muito bem, classificou-a como a “erva daninha que come todas as outras plantas melhores”; os gregos tinham-na como o mais terrível de todos os males… Idealiza a esperança somente o que nunca lhe reparou com atenção as sequelas destrutivas, a ruína total em que frequentemente atira o esperançoso, turvando-lhe a faculdade do raciocínio, o senso do ridículo, incitando-o a tomar decisões estúpidas e irresponsáveis, que arriscam-no juntamente de quem lhe esteja em redor. O justo é que seja o esperançoso tratado qual criança, como alguém carente de que lhe digam os limites, o que se pode e o que não se pode fazer. É sempre perigoso que ele tenha em mãos instrumentos destinados a adultos sãos e maduros.

A crença literária, bela e silenciosa…

A crença literária, bela e silenciosa, o sofrimento íntimo e tímido, a resignação solitária… nada disso parece existir. O que existe e abunda é a vaidade desmedida, o instinto gregário infame unido à necessidade de validação pelos outros. Existe o impor a própria visão de mundo, a exigência de concordância, a intolerância ante o dissidente, a certeza e o orgulho da própria distinção. Pregar, repelir, exigir são os verbos corriqueiros — nunca intransitivos, sempre exigindo um complemento pessoal. Às vezes parece a literatura prestar um desserviço à compreensão do mundo objetivo.

A ação é sempre perturbadora do espírito

A ação é sempre perturbadora do espírito. Por isso a paz é fruto da inércia, da monotonia e do silêncio — palavras ausentes no vocabulário do homem de ação. A necessidade de agir, pois, é o que faz com que o mundo tome traços de inferno. Agindo, não há paz possível, e é impossível o mundo sem ação. Segue, portanto, que a perturbação, o tormento constituem a substância íntima do mundo, e sábio é aquele que se lhe retira. Nada que não tenha sido diagnosticado há milhares de anos atrás…

O que se distingue num artista é a força e a multiplicidade de suas manifestações

O que se distingue num artista é a força e a multiplicidade de suas manifestações. Criatividade não é senão a capacidade em apresentar ideias múltiplas com potência. Por isso todo grande artista, desenvolvendo-se, tende à variedade e aos excessos e torna-se gradativamente mais radical em suas manifestações. Em geral, acabam ceifados desta terra antes de se darem por satisfeitos. Mas há, também, os que se recolhem no silêncio após convictos de que disseram, até a última palavra, o que haviam de dizer.