O mínimo que se espera de um escritor digno deste nome é considerar um insulto o mero conjeturar destes adeptos da engenharia social moderna, que se julgam no direito e com o poder de determinar como os outros devem se expressar. Porque é exatamente isto o que merece a polícia da linguagem: um absoluto e terminante desprezo, que deve ser estendido ao escritor que a ela se submete, que se humilha adequando-se aos ditames súbitos e delirantes de meia dúzia de palhaços que se acreditam poderosos o suficiente para submeter tradições literárias que remontam a séculos e por muitos outros se estenderão.
O homem livre e o escravo
Lavelle faz uma interessante distinção entre o homem livre e o escravo, identificando o primeiro como aquele que faz coincidir a alegria com sua atividade mais habitual, e o segundo como aquele que as separa. Assim, o que os distingue é a satisfação naquilo que fazem, que extrapola as circunstâncias às quais estão submetidos. De tudo o que decorre desta visão, talvez seja isto o mais importante: às vezes, basta pouco para ser livre e, às vezes, é-se escravo sem saber.
Às vezes é muito difícil detectar a falsidade…
Às vezes é muito difícil detectar a falsidade quando se analisa apenas palavras; mas é sempre possível presumir quanto ganha o emissor em proferi-las. Noutras palavras: é sempre possível dimensionar-lhes o impacto em seu interesse pessoal. Nada disso é novidade; contudo, este exercício pouco praticado é ótimo para classificar aqueles que demandam cautela, e aqueles em cuja autenticidade do discurso se pode confiar.
A distinção mais evidente daquele…
Ainda outra de Lavelle:
Toute notre responsabilité porte donc sur l’usage des puissances qui nous appartiennent en propre. Nous pouvons les laisser perdre ou les faire fructifier. Ainsi notre vocation ne peut être maintenue que si nous restons perpétuellement à son niveau, si nous nous montrons toujours digne d’elle. Le rôle de notre volonté est plus modeste qu’on ne croit ; c’est seulement de servir notre génie, de détruire devant lui les obstacles qui l’arrêtent, de lui fournir sans cesse un nouvel aliment : ce n’est point de modifier son train naturel ni de lui imprimer une direction qu’elle a choisie.
A distinção mais evidente daquele que discorre seriamente sobre temas como vocação, felicidade e realização é utilizar palavras como responsabilidade, esforço e dever. A “vontade”, assim, jamais pode ser compreendida como inclinação ao agradável, ao deleitante, ao infantil prazer freudiano, mas somente como empenho efetivo na superação de obstáculos, como resistência que impede o indivíduo de deslocar-se do próprio centro, e não o faz senão o estimulando a ser aquilo que é.