“Il s’agit de se réaliser”

Mais uma de Lavelle:

Tout le secret de la puissance et de la joie est de se découvrir et d’être fidèle à soi dans les plus petites choses comme dans les plus grandes. Jusque dans la sainteté, il s’agit de se réaliser. Celui qui tient le mieux le rôle qui est le sien, et qui ne peut être tenu par aucun autre, est aussi le mieux accordé avec l’ordre universel : il n’y a personne qui puisse être plus fort ni plus heureux.

O mais curioso desta verdade, expressa por Lavelle da maneira mais clara e direta que se pode conceber, é que ela só pode ser compreendida por aquele que a vivenciou em algum grau. “Il s’agit de se réaliser” — e são tão variados os meios pelos quais se pode fazê-lo, que é dificílimo captá-lo como experiência comum, como talvez necessidade, destino e dever individual. O pior é ver que, em muitos casos, não há ninguém além do próprio indivíduo capacitado a identificar e julgar “le rôle qui est le sien”.

O fascinante da literatura é possibilitar-nos…

Outra de Louis Lavelle:

Nous avons plus d’émotion à retrouver dans un auteur les sentiments que nous éprouvons en secret que ceux dont nous témoignons, ceux qui sont en nous en germe que ceux qui ont déjà éclos. Les œuvres de l’esprit ont pour objet un monde que nous portons en nous et qui est souvent invisible à nos propres yeux ; l’auteur qui nous le révèle acquiert du premier coup avec nous une intimité mystérieuse.

O fascinante da literatura é possibilitar-nos a absorção de experiências que, em vida, jamais teríamos. Em certa medida, ela cumpre papel idêntico ao das circunstâncias exteriores, ao estimular-nos no íntimo a manifestação de sentimentos, reações e pensamentos que necessitam de um estímulo específico para aparecer. O entendimento cresce com a compreensão de novas possibilidades e, como está dito, criamos com o autor que as revela um laço difícil de explicar.

O primeiro dever do escritor

Diz Lavelle:

Le premier devoir de l’écrivain doit être de s’élever assez au-dessus de toutes les circonstances de sa vie particulière pour fournir à tous les êtres un appui de tous les instants et les montrer à eux-mêmes tels qu’ils voudraient être toujours.

Tal dever talvez seja o mais difícil, porque o “elevar-se acima de todas as circunstâncias” envolve, primeiro, compreendê-las, e compreender como porventura elas se integram no painel maior da existência individual para, só então, tendo delas extraído um sentido cristalino, pensar em como este sentido pode ser transplantado à experiência humana geral. E comunicá-lo! De fato, não há experiência humana, por individual que seja, cujo sentido não se pode extrair em circunstâncias distintas; o difícil, contudo, é ver o grande no pequeno, algo que crescemos desacostumados a fazer.

Os melhores livros não nos revelam algo desconhecido

Como bem notado por Lavelle, os melhores livros não nos revelam algo desconhecido, mas algo que já sabemos intimamente e que, em razão de uma iluminação súbita, parecemos descobrir. Os melhores livros, pois, não fazem senão lançar luz em algo escondido em nosso interior. O curioso disso é ver que a sensação de descobrir algo que já sabemos grava em nossa mente uma impressão fortíssima, muito maior que a de aprender algo realmente novo e desconhecido. E, simultaneamente à identificação imediata com a ideia, estabelecemos, também de imediato, um ponto de contato com o autor.