A vida intelectual, de A. D. Sertillanges

A vida intelectual, de Antonin-Dalmace Sertillanges é, sobretudo, um livro prático: um manual destinado a todos aqueles que buscam estruturar uma vida que exceda a banalidade cotidiana. Digo de minha parte: quando, lá pelos meus vinte anos, deparei-me com esta obra, encontrei justamente o que precisava: a motivação e os meios para arquitetar um plano de estudos de longo prazo, reconhecendo a importância dos hábitos, da seleção das leituras, do recolhimento, em suma: da organização da vida para o progresso intelectual. E lembro-me o prazer em respirando aquelas belas páginas de Sertillanges, dotadas de serenidade contagiante, justificando, elevando e enobrecendo o trabalho intelectual. Sem dúvida, é livro para fechar inspirado, agradecido e motivado.

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Busca da felicidade

A felicidade só pode ser finalidade de vida em naturezas fúteis. Em primeiro lugar, por sua impossibilidade; em segundo, por sua pequenez. Que mal faz aceitar a vida em totalidade? É atitude vigorosa saudar os maus momentos, e mais: valorizá-los enquanto formadores de sentido.

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Corrupção humana

Segundo Pascal, o homem está corrompido a tal ponto que nem o conhecimento está imune de falsificação. Se levarmos tal afirmação a sério, será forçoso que adotemos uma postura humilde em relação a tudo: teremos de duvidar de cada uma de nossas palavras e ter extrema cautela com qualquer coisa que se nos afigure como “convicção”. Trataremo-nos com certo desprezo, e amor-próprio será palavra impossível. É provável que evitemos o contato e nossa independência, caso se manifeste, fá-lo-á de forma comedida. Em resumo: seremos exatamente o contrário dos homens deste século.

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Convicções

As convicções nunca deixam de espantar-me. Quero dizer: já há muito que estudo, estudo e estudo e ainda assim não consigo formular uma única certeza. Em tudo quanto penso sempre encontro exceções… Nada, nunca encontrei nada de absoluto e irrefutável, ainda que procurando como um doente obsessivo. Pois que chegam a mim, de todos os lados, resoluções quanto à vida, respostas convictas às perguntas mais complicadas, que mais escapam a qualquer tipo de razão, definições irrefutáveis sobre aquilo que ultrapassa todos os limites… tudo isso envolto numa simplicidade espantosa. Não posso deixar de notar que toda afirmação convicta carrega uma empáfia que a mim é insuportável. Por isso me não identifico, definitivamente, com nenhum que julgue possuir “respostas” de nenhuma espécie. A mim, a reflexão só prova a impossibilidade de obtê-las em definitivo. Não desconsidero, talvez, a minha própria falta de capacidade… Mas julgo os fenômenos mais interessantes se não resumidos em meia dúzia de sentenças.

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