Natureza maldita

Vamos de Blaise Pascal:

Nada é tão insuportável ao homem quanto estar em pleno repouso, sem paixões, sem negócios, sem divertimentos, sem atividades. Ele então sente seu nada, seu abandono, sua insuficiência, sua dependência, sua impotência, seu vazio. Imediatamente sairá do fundo de sua alma a angústia, o negrume, a tristeza, a aflição, o despeito, o desespero.

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A paciência

Está aí uma grande qualidade: a paciência. E o que é, em suma, a paciência? Podemos dividi-la da seguinte maneira: o saber da transitoriedade do presente e o saber dos efeitos do tempo. Quase nada de verdadeiramente valioso, verdadeiramente capaz de trazer-nos orgulho se nos afigura desprovido do vigor somente dado pelo tempo. Quero dizer: o tempo fortalece e aprimora nossas qualidades, nossos feitos, e a paciência é a virtude necessária para deixá-lo agir. E quanto ao que nos aflige e nos desconsola? Transitório. O que nos alegra? Também. O tempo amplifica, mas atenua. Assim, qualquer que tenha algum objetivo, um propósito ou uma meta suficientemente relevante, ou que se sinta extremamente alegre ou desconsolado em determinado período, faz bem em desenvolver essa sábia virtude que é a paciência.

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Cândido, ou o otimismo, de Voltaire

Assim como A revolução dos bichos, de George Orwell, é a melhor vacina contra o comunismo, Cândido, ou o otimismo, de Voltaire, é a melhor vacina contra a risível noção contemporânea de autossuficiência do homem. “Você pode conseguir o que quiser”, “o mundo é uma projeção do seu interior”, “pensar positivo é a chave para o sucesso”, e outros muitos jargões contemporâneos são facilmente derrubados pelo escárnio de Voltaire. E se temos hoje ressalvas quanto ao julgamento da filosofia de Leibniz feito em Cândido, em decorrência do redescobrimento deste filósofo já no século XIX, a obra imortal de Voltaire não deixa jamais de perder seu valor instrutivo. Em suma, Voltaire coloca Cândido diante da impotência humana perante o meio, da implacável maldade humana em todas as terras e do vil desejo que comanda nossas ações. E Cândido, mesmo encontrando o paraíso terrestre após uma sucessão escandalosa de desditas, decide deixá-lo após julgar que neste país seria “como todos os outros” e que não estaria na companhia de sua amada — que, segundo seu julgamento, já deveria dispor de novo amante; — mostrando-nos como o homem é refém da própria natureza e da própria ambição. Podemos tirar de Cândido, pois, uma lista de lições, dentre elas estas, valiosíssimas em nosso tempo: humildade perante as nossas possibilidades, vergonha perante a ambição que nos domina e reverência perante o fado que nos assola.

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O humor como finalidade

Fosse eu resumir numa máxima, diria que o humor ampara e precede as demais virtudes. E julgo seria infinitamente mais útil, ao invés de “consciência social”, ensinar aos jovens o bom humor. Quero dizer: ao invés de estimular chatíssimos debates sobre o aquecimento global, sobre as questões de gênero, sobre as baleias ou sobre a fome na África, o professor faria mais, uma vez por semana, lecionando comédia — e de preferência trajado qual palhaço. Assim os jovens poderiam captar a essência do humor, que não é senão a constatação do próprio ridículo; e aprenderiam a rir da realidade e a se não levarem tão a sério. Em alguns anos, teríamos uma geração menos arisca, e os adultos que se lhes entranhasse o bom humor veriam-no combatendo diariamente a vaidade e o orgulho, tornando suas vidas mais leves e felizes, afastando-lhes do ódio e propiciando-lhes um convívio social significativamente mais agradável.

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