The Sopranos, de David Chase

Perdi, já há algum tempo, o hábito das séries. Mas sei que se por algum motivo bater-me a nostalgia das horas despendidas frente à tela, mesmo submerso em um mar de opções recentes e aclamadas, optarei por rever — outra vez… — The Sopranos, de David Chase. E por quê? Porque essa série, dentre todas, exibe as construções psicológicas mais complexas e instigantes que já tive a oportunidade de assistir. Personagens inteligentes, ambíguos, agitados por pujantes conflitos internos e representados em atuações fantásticas. Nada mais cabe a mim esperar de uma série…

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Ideias venenosas

Tenho algumas ideias bastante venenosas, por exemplo, esta: só atingirei a plenitude no dia em que não souber dizer o nome do presidente do meu país. Confesso, tenho-me esforçado: já não leio notícias quaisquer, não ligo uma televisão há anos, não sei dizer quem é o atual vice-campeão brasileiro e outras façanhas. Mas sei que a plenitude, a paz de espírito e a sabedoria só virão no dia em que me perguntarem: Em quem votaste para senador? Que pensas do novo projeto de lei? Que achaste da nova composição ministerial? E para todas estas eu não responder senão com um sorriso sarcástico na face.

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A flexibilidade da língua portuguesa

Recebo a simpática instrução por e-mail: “(…) na página “Leituras” está escrito “Assim me tenho divertido” enquanto o correto seria “Assim eu…” pois “me” não faz nada (…)”. Justifico-me nesta nota.

Claro, amigo, “me” não faz nada além de receber a ação verbal: é objeto. Abaixo as transformações a que submeti a construção “Assim eu tenho divertido a mim mesmo”:

1- Assim eu tenho divertido a mim mesmo.

2- Assim tenho divertido a mim mesmo.

3- Assim tenho divertido-me.

4- Assim tenho-me divertido.

5- Assim me tenho divertido.

Uma das características mais belas da língua portuguesa é justamente essa flexibilidade quanto à colocação. O pronome oblíquo átono pode ocupar diversas posições dentro de uma mesma frase. Neste caso, saliento: 1) a concisão em se reduzindo “a mim mesmo” pelo oblíquo “me”; 2) a absoluta repugnância aos ouvidos na posposição do oblíquo ao particípio, evidenciado no exemplo 3 (“divertido-me” não existe em português); e 3) a força atrativa do advérbio “assim”, que me permite puxar o oblíquo para trás do verbo auxiliar.

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Em busca de sentido, de Viktor Frankl

Sempre me irritou a ideia, muito disseminada, de que o ser humano é apenas um cachorro. Vejo isso o tempo inteiro: seja no sujeito que julga a fome ser o principal problema do homem ou na psicologia que se atém aos instintos e jamais ultrapassa os instintos. Pois bem. Eis que nasce um gênio — e precisamos de gênios para dizer-nos o óbvio… — e diz o seguinte: há no ser humano uma dimensão espiritual que o define e o transcende. E o gênio, de nome Viktor Frankl, teve de provar na carne a validade da própria teoria, suportando as terríveis atrocidades de vários campos de concentração nazistas e mantendo a sanidade mental. Quer dizer: pulsa em nós o animal, mas há algo mais nobre. Abaixo um trecho do livro:

No campo de concentração, por exemplo, nesse laboratório vivo e campo de testes que ele foi, observamos e testemunhamos alguns dos nossos companheiros se portarem como porcos, ao passo que outros agiram como se fossem santos. A pessoa humana tem dentro de si ambas as potencialidades; qual ser concretizada, depende de decisões e não de condições.

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