Amy Winehouse

Imagino-me após um ano casado com Amy Winehouse. Já seria impossível qualquer tipo de contato físico; haveria, entre nós, uma repugnância pungente e total. Não haveria diálogo; claramente, não teríamos sequer afinidade de caráter. Se alguma paixão tivesse precedido o matrimônio, então ela agora estaria devidamente sepultada, arrefecida pelo tempo e pelas discrepâncias de temperamento. Com absoluta certeza, já estaria sendo traído a descoberto. E então me imagino, no quarto ao lado, ouvindo-a diariamente a ensaiar. Não pediria o divórcio.

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Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe

Li Werther pela primeira vez e — pasmem! — não gostei. Vinha de não sei qual leitura ou, melhor dizendo, de A montanha mágica, de Thomas Mann, e senti o livro ser menor do que é. E a vida, como habitual, fez-me a língua queimar. “Bom, mas piegas. Em determinado momento, enjoa” — foi o que disse ao finalizar a leitura. Não nego: estava em encanto, embriagado do primeiro contato com Mann. Pouco tempo depois, repensei: é bem provável que o problema esteja em mim, não em Goethe. Dei nova chance ao livro — um livro, digamos, de “uma sentada” — e a leitura deu-se da seguinte maneira: senti calafrios, meus olhos pareciam engolir as linhas; por vezes, pensei em pausar, a pensar com calma em tudo o que estava sentindo. Imerso em um turbilhão de sentimentos, pensamentos, julgava Werther ao mesmo tempo que empatizava com a narrativa. Quase a chorar, fecho o livro. O veredito: “Junto de A morte de Ivan Ilich, de Tolstói, essas foram as melhores poucas páginas que já li em toda a minha vida”. E quase esqueço do principal: “Jamais me perdoarei por dizer desse livro enjoativo. Sou, eternamente, um imbecil”.

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A grande virada

Tornei-me alguém melhor quando decidi nunca, jamais, em hipótese alguma tentar convencer ninguém a pensar de tal ou qual forma. Isso inclui sempre evitar emitir opiniões; se solicitado, emiti-las cuidadosamente; se contestado, aceitar sem despeito. Faço mais pelo mundo que todas as ideologias políticas juntas…

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Como aprender idiomas

Alguns truques que o tempo ensinou-me:

I- Estabelecer um objetivo maior só possível caso saiba o idioma. Exemplos: aprender inglês para ler sobre finanças, aprender espanhol a fim de emigrar, aprender latim para ler clássicos no original, aprender russo para ler o que ainda não foi traduzido etc. etc.

II- Do básico ao intermediário: primeiro, o ouvido; depois, a fala; depois, a leitura; e por fim: a escrita.

III- Aprender um idioma não é uma questão de inteligência, aptidão, nada. Aprender um idioma é insistência, é disciplina. Basta que não desista. É uma questão que pode ser resumida em: quanto tempo consegue persistir em um texto sem entender absolutamente nada?

IV- No início, é duro; pouco tempo depois, os progressos começam a aparecer e continuam até o nível intermediário, quando se inicia o contato com a literatura. Aí vem a parte mais difícil, dolorosa e desalentadora: a compreensão dos textos parece impossível, o vocabulário parece um muro insuperável, a leitura não é nem um pouco prazerosa e tem-se a sensação de estar perdendo um tempo imenso frente a um texto que não entregará nada. Pois bem: é exatamente neste ponto que, persistindo, aprende-se um idioma em definitivo.

V- Ser versado em gramática da língua nativa contribui incalculavelmente para aprender qualquer outro idioma.

VI- Cabe a repetição: professores e cursos são absolutamente dispensáveis. O autodidata não é o inteligente, e sim o que resiste em meio ao desconforto.

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