A grande literatura guarda um elo fundamental…

A grande literatura guarda um elo fundamental com a realidade sem o qual perde completamente sua função educativa. É a investigação da realidade, ainda que sob a forma de realidade possível, o que faz com que a literatura amplie o horizonte do leitor, tornando-lhe a compreensão maior do que aquela de alguém que não lê. Disso facilmente se nota não somente a importância, mas a necessidade de que o autor trabalhe na obra o que tem de mais estritamente pessoal. Assim fazendo, permite que aquilo que pôde experimentar e compreender individualmente se torne, pela leitura, também patrimônio de seu interlocutor.

O papel essencial da literatura

O papel essencial da literatura é desvendar, examinar e criticar possibilidades humanas, as quais podem passar despercebidas por aquele que não se atenta ou não as imagina. É um trabalho, em suma, de ampliar e aprofundar a compreensão. A literatura é grande porque jamais se esgota, porque encerra em si mesma o potencial de tudo aquilo ainda não imaginado, abrigando as ideias mais estritamente pessoais. Estas, postas no papel, renovam-na e a engrandecem, numa expansão infinita que jamais deixa de guardar espaço para um novo autor.

O estudo da história é desagradável

O estudo da história é desagradável porque nos obriga a mirar o homem completo, em todas as suas manifestações. Assim que ela demonstra-nos não o que gostaríamos, mas o que foi, e contrariados temos de defrontar crueldades infinitas atreladas a praticamente todos os “grandes feitos”. Mais investigamos, menor fica nossa lista de admirados, até um ponto em que começamos a questionar se realmente é possível, ao mesmo tempo, conhecer e admirar alguém.

Novamente o remorso…

Diz Leopardi:

Sopra ogni dolore d’ogni sventura si può riposare, fuorchè sopra il pentimento. Nel pentimento non c’è riposo nè pace, e perciò è la maggiore o la più acerba di tutte le disgrazie.

Incrível notar que, noutras palavras, idêntica afirmação já se encontra nestas notas: é mesmo o remorso extremamente doloroso e invencível, atuando como um grilhão inamovível do espírito, contra o qual nada se pode fazer. Mas o curioso é notar a conclusão idêntica, alcançada por vias diversas e independentes, que se não expressa uma verdade duas vezes descoberta, talvez denote experiências semelhantes ou, ainda, espíritos que a elas reagem semelhantemente.