A narrativa ficcional realista e objetiva…

A narrativa ficcional realista e objetiva, se carregada e praticada como dogma, acaba privando o escritor desta verdadeira delícia que é o estilo, visto que, por definição, ser realista e objetivo é adotar, por assim dizer, um “estilo impessoal”. Mas esta delícia, experimentada pelo poeta, pelo filósofo, pelo historiador e por quem quer que compreenda o elemento individual necessário à escrita, e sem o qual a obra é desprovida de elo com a realidade apreendida em primeira pessoa, é também um incentivo inigualável ao apuro da expressão. A satisfação de moldar as palavras é a satisfação com a liberdade de dizer as coisas tal como nos pareça melhor.

Sob nenhum aspecto a sede de domínio…

Sob nenhum aspecto a sede de domínio pode ser considerada virtuosa, embora seja característica ubíqua na história. Todas as razões imagináveis estão aí muito bem documentadas para condená-la, mas ainda assim o presente século a observa expandindo-se por meios cada vez mais poderosos, sem que se lhe contraponha ao menos o consenso de ser urgente freá-la; freá-la, expô-la e subjugá-la. Experimentar consequências tão óbvias e facilmente perceptíveis como as que se desenham é algo que não se permitem nem os animais.

Se algo ensinam as várias biografias da revolta…

Se algo ensinam as várias biografias da revolta, é que se pode evitar a sociedade, o contato e mesmo a vida até determinado ponto a partir do qual o esforço não é somente inútil, mas gerador de uma retaliação violentíssima, que de outra forma não sucederia. Quer dizer: neste mundo, há um limite em que é melhor assumir de bom grado algumas condições inerentes da existência, antes que elas sejam impostas; é melhor aceitá-las e trabalhar sobre elas, em vez de empregar um esforço desnecessário para vencê-las, sabendo de antemão que tal esforço irá malograr.

Antes de converter-se numa obsessão…

Antes de converter-se numa obsessão ou num requinte fútil, deter-se na forma é respeitar o valor daquilo que se tenciona expressar. É não querer apresentá-lo com desleixo, e sim de maneira que lhe faça jus. Portanto, é uma preocupação natural àquele que não se divirta despejando palavras ao vento, e trabalha com matéria de importância verdadeira e pessoal.