Nunca deixa de espantar os extremos…

Nunca deixa de espantar os extremos a que a vaidade atira o espírito, fomentando essa desprezível necessidade de afirmação de importância perante o outro. A cada manifestação deste tipo, aflora um sentimento ruim no observador, um sentimento que só mesmo um santo para convertê-lo em piedade e misericórdia. Realmente, a caridade moral é a mais penosa entre todas as virtudes, e talvez só seja possível naquele tocado por uma inspiração superior.

É mesmo inevitável essa simpatia…

É mesmo inevitável essa simpatia que brota por aquele cujos inimigos desprezamos, e é uma simpatia que tanto mais se intensifica quanto piores estes se mostram; uma simpatia, portanto, que cresce a despeito do mérito do simpatizado. A injustiça é deplorável, e minora muito a aparência das falhas. Quando nos deparamos com um alvo da perfídia humana, não há como permanecermos impassíveis e, se não por afinidade, pela recusa da malevolência já nos colocamos em uma posição.

Diante de toda realização impossível…

Diante de toda realização impossível, diante dos milagres mais impressionantes, há sempre aqueles que se atêm à insignificância de um detalhe para contrariar o colosso, ou melhor, para afagar dentro de si a inveja e consolar-se pela incapacidade de realizar, ou sequer compreender semelhante realização. O homem é mesmo um animal deplorável… Para salvá-lo, só infinita misericórdia.

O ceticismo encerra um destes curiosos paradoxos

O ceticismo encerra um destes curiosos paradoxos por ajustar-se, simultaneamente, à humildade e à presunção. Isso demonstra que pode-se classificá-lo em dois tipos: o ceticismo “não sei” e o ceticismo “não sabes”. Dois tipos, como se vê, antagônicos, representando um a modéstia e o outro a soberba, um o juízo despojado sobre as próprias capacidades e o outro uma acusação sobre aquelas de outrem. Tipos contrários que, todavia, atendem pelo mesmo nome.