Talvez a mais importante e necessária função da filosofia seja assentar os fundamentos racionais do senso comum. É preciso, de novo e de novo, percorrer os mesmos caminhos e repetir os mesmos argumentos milenares em favor da sensatez; do contrário, quão facilmente ela se dispersa! e quão lamentáveis consequências se sucedem desse dispersar! De fato, tem razão Edward Feser: todos os males morais de que padece a modernidade remontam ao distanciamento de Aristóteles, de Platão, de Aquino e dos demais pensadores que, por muitos séculos, constituíram a base do pensamento ocidental.
O Brasil imperial é marcado por um desfile…
O Brasil imperial é marcado por um desfile de personagens que, apesar de defeituosos, exibem sólidas e inegáveis virtudes. Tão numerosos os embates em que se percebe evidente, de ambos os lados conflitantes, o desejo sincero de acertar. Também numerosos os erros; mas, o que hoje impressiona, há arrependimento e retratação. Encontra-se a perfídia, encontra-se o interesse mesquinho, mas sobram exemplos de retidão e magnanimidade. Um painel, em suma, que os historiadores do presente não terão a sorte de apreciar.
É na religião que se fundamentam…
Quase sempre, é na religião que se fundamentam os atos de maior grandeza praticados por homens de todas as civilizações. E disso facilmente se nota a importância da educação religiosa, e quão proveitosa ela pode se mostrar na formação do caráter. É muito difícil imaginar um ateu médio capaz de suportar com altivez as duríssimas provações que tão frequentemente encontramos na vida de grandes religiosos, quando o necessário é justamente fazer aquilo para o qual não foi instruído: amparar-se em algo maior. Diante das dificuldades, o ateu está sempre em desvantagem, e o utilitarismo que o mais das vezes cultiva é a garantia de que, cedo ou tarde, ser-lhe-á conveniente a escolha da corrupção.
A hipocrisia é a substância da moral pública
Já é corriqueira a assertiva de que a hipocrisia é a substância da moral pública, e que, sem ela, são impossíveis as relações sociais. Justo, embora não pela consequente impressão de que se deve tolerá-la integralmente. Há um limite, como há hipocrisias. A hipocrisia, tal como a mentira, só se justifica quando evita que se atravesse a fronteira da educação. No mais, o que faz é diferenciar homens de canalhas, e não se pode admiti-la sem que também se admita o naufrágio completo do próprio valor.