Diz o distinto marquês de Maricá que “a misantropia limita-se aos homens, não compreende as mulheres”. Novo engano… Quiçá aplique-se a máxima à misantropia recreativa, à misantropia quando cultivada como hobby; mas não, de forma nenhuma, à misantropia autêntica e profissional. Esta alveja, ou melhor, reage ao comportamento humano, claramente diferente daquele de uma pedra ou de um cachorro, e presente tanto no homem, quanto na mulher. Se uma mulher se comportar como uma pedra, é verdade, há de se admitir que o misantropo a poupará. Mas desde que, oh Deus!, desde que fale, desde que seja capaz de vibrar as cordas e sonorizar uma voz humana, desde que seja capaz de dirigir a outra alma uma palavra, e portanto forçar, impelir, constranger a um ato comunicativo e reclamar para si atenção, fatalmente a mulher estará incluída na lista, o marquês está errado e não há nada que se fazer.
Em literatura, é tão proveitoso variar o estilo…
Em literatura, é tão proveitoso variar o estilo quanto o é, na vida, variar o pensamento. O risco de não fazê-lo é viciar-se e diminuir-se, estreitando horizontes e fadando a próxima expressão a ser uma réplica da anterior. Em certa medida, variar o estilo é também pensar diferente, e o escritor que se acostume a fazê-lo se estará habituando a estimular o cérebro a não se contentar, acomodado, com aquilo que já concebeu.
Como lidar com a inveja
Quando somos perguntados sobre como lidar com a inveja, com a maledicência e com a falsidade, é seguro estarmos diante de um jovem, ou de alguém de pouca experiência. “Lidar” é vocabulário de quem ainda se encontra atado ao jogo social e receia aparentar hostil. Em suma, não há “lidar” com a inveja, com a maledicência e com a falsidade. O que há é se afastar terminantemente de invejosos, de maledicentes e de falsos, já no primeiro e menor sinal, sem hesitação nem constrangimento. Para fazê-lo, porém, é preciso ter a personalidade muito bem consolidada, algo que só vem com os anos, e torna possível agir resolutamente e desferir este pontapé automático na conveniência.
A verdadeira personalidade
A verdadeira personalidade aparece quando se retira a máscara social. Muitos, por receio, passam uma vida inteira sem que possam assumi-la, ou sequer conhecê-la. Disso, o efeito mais evidente é a permanente insatisfação. Não há nada que, nesta vida, substitua o gosto proveniente da autenticidade; para experimentá-lo, porém, é necessário um ato de coragem, sempre disruptivo, de consequências, a curto prazo, o mais das vezes desagradáveis. Ocorre que, muito antes do que se espera, vai-se o choque inicial e sente-se como uma libertação de constrangimentos infinitos, todos eles decorrentes da infeliz tentativa de parecer aquilo que não se é.